Joaquim Fernandes
Historiador
Julgo que o atual empenho da NASA e do Departamento de Defesa (Pentágono) face aos UAP’s equivale, no plano geoestratégico global, ao período subsequente aos finais da II Guerra Mundial: neste caso, a ameaça do bloco comunista e a emergência de uma nova potência atómica ( jargão da época) conduziu ao estado de alerta dos EUA com o projeto Mogul (balões a grande altitude para deteção de explosões nucleares da URSS), momento zero da vaga dos então designados “discos voadores” que levaram à instauração do Projeto SIgn (1947) e similares que culminaram no Projeto Blue Book (1969).
Pode antever-se no quadro atual algumas semelhanças face ao quadro politico-militar (guerra na Ucrânia) e tudo quanto possa por em causa os critérios de segurança (leia-se, defesa) aérea dos EUA. Estes, como se deduz das palavras do chefe da AARO (Departamento de Defesa) neste painel da NASA, colocam em primeira instância os seus interesses geoestratégicos onde se perfilam secundária e eventualmente eventuais novas aplicações tecno-científicas (propulsões sofisticadas, anti-gravíticas (?), materiais exóticos (?)), como se adivinham pelos vários projetos cometidos à indústria aeronáutica de topo do país e divulgados num dos primeiros documentos que circularam a pretexto deste volte-face das entidades da Defesa/Pentágono.
À luz destas prioridades admitidas neste forum, o lugar da Ciência, pura e desinteressada, esse, parece continuar, infelizmente, relegado para um lugar de somenos prioridade. Ressalta do conjunto das intervenções dos membros da NASA um lugar-comum: eliminar qualquer réstia de suspeita (por mais insignificante que possa ser), de uma potencial natureza ET em primeiro grau, infestando o espaço próximo da Terra.
Uma objeção de princípio pode ser desde logo arguida: o habitat recorrente dos fenómenos aéreos invulgares é mais o espaço próximo da Terra do que o horizonte longínquo do sistema solar e mais além, domínio para o qual a NASA estará mais vocacionada. Ou seja, reduzir as manifestações dos UAP’s a atividades excursionistas (?) de astronautas/cientistas procedentes de outros mundos não será talvez a melhor opção, não osbtante a utilidade inegável do emprego da mais-valia científica da vasta massa crítica de que Agência norte-americana dispõe. Por outro lado, o que se espera da NASA num futuro próximo é que possa ter como alvo, não aquilo que os UAP’s NÃO SÃO, por negações/exclusões sucessivas, mas o que eventualmente poderão SER e que porventura escape ao léxico do Conhecimento científico do presente.
Leitura porventura ingénua quando, no essencial, o que pode estar em causa é uma manifestação de uma outra espécie de Inteligência cujos atributos tecno-científicos, à luz dos nossos conhecimentos atuais poderiam equivaler – como diria o visionário escritor e cientista Arthur C. Clarke – a demonstrações de magia…