Cientistas do Instituto SETI avaliaram se civilizações alienígenas com tecnologia semelhante à humana poderiam detectar sinais de inovação terrestre a partir do espaço. A investigação analisou as potenciais tecno-assinaturas que seriam visíveis e a que distância poderiam ser detectadas por uma tecnologia comparável à nossa.
Quando procuram sinais de vida noutros planetas, os cientistas procuram bio-assinaturas, como gases atmosféricos indicativos de processos biológicos. O Telescópio Espacial James Webb já é capaz de detectar algumas dessas “impressões digitais químicas” de vida a longas distâncias. Actualmente, estudos focam-se na análise de exoplanetas rochosos, como os da estrela TRAPPIST-1, a 40 anos-luz da Terra, mas ainda sem provas definitivas de vida extraterrestre.
Além das bio-assinaturas, cientistas do SETI há décadas que buscam tecno-assinaturas, sinais de tecnologia alienígena. Desde os anos 1960, tentativas de detectar sinais de rádio incluem o famoso “Sinal Wow” de 1977, entretanto atribuído a causas naturais. Pesquisas mais recentes incluem o COSMIC SETI, que vasculha sinais de rádio em grande escala, e procura por mega-estruturas como Esferas de Dyson. Outros projectos investigam luzes urbanas em exoplanetas e sondas alienígenas próximas da Terra. No entanto, até ao momento, nenhuma evidência definitiva de tecnologia extraterrestre foi encontrada.
Recentemente, uma equipa de cientistas decidiu investigar quais das nossas próprias tecnologias poderiam ser detectadas por civilizações extraterrestres, no mesmo nível tecnológico que o nosso. O objectivo era avaliar a capacidade actual da humanidade de emitir tecno-assinaturas e de que forma isso poderia ajudar nas procuras futuras.
Macy Huston, co-autora do estudo, ressaltou a importância de quantificar os sinais tecnológicos da Terra:
*”No SETI, nunca devemos presumir que outras formas de vida e tecnologia sejam iguais às nossas, mas entender o que significa ‘nós’ pode ajudar a colocar as buscas em perspectiva.”*
O estudo, liderado por Sofia Sheikh do Instituto SETI, utilizou modelos teóricos que determinaram que as tecno-assinaturas mais visíveis para alienígenas seriam as emissões de rádio da Terra. Os sinais mais fortes, como os radares planetários do antigo Observatório de Arecibo, poderiam ser detectados até **12.000 anos-luz** de distância.
Outras tecno-assinaturas atmosféricas, como emissões de dióxido de nitrogénio (indicativas de processos industriais), seriam muito mais difíceis de detectar. Apenas telescópios avançados, como o James Webb ou o futuro **Habitable Worlds Observatory (HWO)**, poderão vir a identificar essas emissões a distâncias de **até 5,7 anos-luz**, aproximadamente a mesma distância da estrela mais próxima, Proxima Centauri.
Outras tecno-assinaturas, como luzes urbanas, lasers, ilhas de calor e satélites, também poderiam ser vistas do espaço, mas apenas por sondas ou telescópios muito próximos da Terra, pois são sinais fracos demais para serem detectados a grandes distâncias.
Embora muitos estudos do SETI tenham focado em civilizações mais avançadas, esta pesquisa trouxe uma abordagem inédita: avaliar a própria tecnologia humana sob a perspectiva de um observador distante. Segundo Sheikh, o estudo é um exercício valioso para reflectirmos sobre a nossa presença na galáxia:
*”Uma das partes mais gratificantes deste trabalho foi usar o SETI como um espelho cósmico: como a Terra se parece para o resto da galáxia? E como nossos impactos actuais no planeta seriam percebidos?“*
Os investigadores sugerem que, caso um dia detectemos um exoplaneta com altos níveis de poluentes atmosféricos, poderemos inferir a presença de uma civilização industrial, assim como alienígenas poderão fazer ao nos observar.
O estudo intitulado *“Earth Detecting Earth: At What Distance Could Earth’s Constellation of Technosignatures Be Detected with Present-day Technology?”* foi publicado no *The Astronomical Journal*.
Texto baseado no artigo do The Debrief – https://thedebrief.org/could-aliens-with-human-level-technology-detect-us-seti-scientists-weigh-in/